sábado, 23 de janeiro de 2010

NASCE NARIZINHO
















Walkiria Assunção
Até 1924 toda a obra de Monteiro Lobato era recolhida dos artigos e crônicas que publicava em jornais. Há ja algum tempo, não escrevia nada "a sério". Quase sem perceber, talvez para passar o tempo, começou um outro estilo de literatura: estórias para crianças, aquelas que o tornaria um dos mais importantes escritores brasileiros.
A primeira estória da série, que se tornaria maior do que ele próprio imaginava, foi ideada como um livro de leitura para uso das escolas primárias. Foi " Amenina do Narizinho Arrepiado', editado em 1921, que nas edições sucessivas passaria a deno minar-se simplesmente: Narizinho.


CONTINUA

FAZENDEIRO, CRIA O JECA
















Walkiria Assunção
Em 1911, ainda está em Areias, tem três filhos, quando um novo acontecimento muda outra vez seu modo de viver: morre o avô visconde. As terras de Taubaté passando-lhe em herança: Monteiro Lobato vira fazendeiro.
Entusiasmado por empreendimentos novos, tenta tudo para que sua fazenda progrida e renda lucros.
Procura aplicar novas técnicas agrícolas, dar melhores condições aos lavradores, instalar um novo ritmo de trabalho em sua fazenda. Mas é então que depara com um problema; a chamada "indolência' do caboclo.
Tenta descobrir as causas da dificuldade de adaptação e chega a várias conclusões. A base de tudo não é a preguiça, conforme lhe afirmava muitos. É a subnutrição, as inúmeras moléstias, as péssimas condições do ambiente. Convencido deisso, cria seu primeiro personagem marcante: O Jeca Tatu. É a imagem do caboclo, que ele tão conhece; e publica sua estória num livro de publicidade de um medicamento de combate às verminoses.
Além desses problemas, as dividas que herdará com a fazenda, as terras exauridas por muitas queimadas sucessivas, acabam por desanimá-lo. Está com trinta e quatro anos. Apesar dos inúmeros negócios que tentou, não abandonou a literatura um so momento.
Em 1914, publica dois artigos no "O Estado de S. Paulo": Velha Praga e Urupês.
O primeiro , sobre os males da queimada, que castiga o solo e logo o torna improdutivo; é um apelo dramático para que as autoridades tomem providências, príbam esse crime contra o solo.O sucesso é grande, o escritor começa a ser requisitado.
Em meados de 1917, consegue vender a fazenda e transfere-se para São Paulo. Entrega-se de corpo e alma ao trabalho de escrever. Através da "Revista do Brasil" faz uma enquete sobre o saci, personagem da mitologia brasileira. É tal o sucesso do tema que resolve publicá-la sob a forma de livro. É então que surge Monteiro Lobato editor. Em 1918 publica o seu primeiro livro, Urupês. No ano seguinte funda a Editora Monteiro Lobato & Cia. Os negócios parecem ir de vento em popa mas em 1924 vem a falência. Lobato não desanima. Paga as dividas e funda nova editora, em sociedade com amigos. Essa mesma editora se transformaria mais tarde numa das maiores do país: é a atual Cia. Editora Nacional.

MONTEIRO LOBATO















Walkiria Assunção
CERCADO DE LIVROS
Todos os documentos de Monteiro Lobato ja adulto trazem o nome José Bento e não José Renato, como fôra batizado. Qual a razão dessa mudança? Desde muito pequeno, Lobato sentia uma fascinação especial por um objeto pertencente ao pai: uma elegante bengala de castão de ouro. Sonhava herdá-la, um dia. Mas havia um detalhe atrapalhando seus planos. As iniciais do nome do pai, "JBML",gravadas no castão, não conincidiam com as suas. Para resolver o problema, resolveu mudar o nome, passando a assinar dai por diante José Bento Monteiro Lobato.
Filho único, Lobato passou a infância cercado de cuidados e mimos. Alfabetizado em casa, foi desde cedo envolvido pela literatura. Um tio erudito deixara em casa do visconde uma biblioteca muito provida. Devorar os livros da biblioteca do tio constituía uma das delicias da infância passada na fazenda de Taubaté. E foi naquela cidade que o pequeno Lobato fez os primeiros estudos. Adolescente, foi enviado ao "Instituto de Ciências e Letras", em São Paulo, a fim de preparar-se para os cursos superiores. Grande missivista, correspondia-se assiduamente com a família. Além de descrever os estudos e aventuras na Capital, suas cartas mostravam certo ressentimento quanto à situação econômica. Embora sendo"menino de boa família", sua mesada tornava-se dia a dia mais reduzida. Os negócios do pai, em Taubaté, não iam bem. Além disso, as despesas em casa haviam aumentado: sua mãe caíra doente e gastava-se muito em seu tratamento. Acerta altura, as dificuldades do estudante eram tantas que ele foi obrigado a pedir aos parentes que parassem de lhe enviar frutas, pois não podia pagar o carreto da estação à sua casa. Apesar do"aperto", Lobato consegue manter o humor e participa ativamente da vida do Instituto. O" gremio" da escola tem intensa vida literária. Entusiasmo, Lobato começa a colaborar nos jornaizinhos estudantis; escreve crônicas, contos e poesias. Ao mesmo tempo em que surge o escritor, outro lado artístico de sua personalidade vem à tona: o desenhista e caricatirista..
Em 1898, morre seu pai; no ano seguinte, sua mãe, Lobato está terminando os cursos preparatórios. É o momento de decidir que rumo tomará. Fascinado pelo desenho, pensa em cursar a Escola de Belas Artes. Mas o avô visconde, seu tutor depois da morte dos pais, não quer nem ouvir falar em neto desenhista. Engenharia? Também não. Que outro caminho deveria escolher o neto de um visconde senão os cursos jurídicos? Em 1900, com dezoito anos, Monteiro Lobato ingressa na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
DO ALTO DO MINARETE
Morando em "republicas" sw estudantes, Lobato vê-se em pouco tempo fazendo parte de um grupo. Os companheiros de quarto variam mas a "sociedade", em si, é sempre a mesma. O lugar"oficial" onde o pessoal se reune é o "café Guarani", no Largo" do Rosário, atual Praça Antônio Prado. Pertencer à turma é ser membro do "Cenáculo".
Em 1903, um dos participantes do "Cenáculo" aluga os altos de um sobrado no bairro do Belém e Lobato muda-se para la. A construção, situada no centro de um terreno vazio, ganha logo um apelido "O Minarete" (minarete é a torre das mesquitas muculmanas de onde os"muezins chamam os fieis à oração). No alto do "Minarete' o grupo se reune, discute, estuda, escreve, conversa sobre literatura, faz planos para o futuro.
A certa altura, um grupo resolve fundar um jornal, Lobato e os amigos dispõem-se a escrevê-lo e escolhem o nome: chamará, também, O Minarete. Muitas vezes é o escritor caricaturista quem trabalha, sozinho, no jornal todo, da primeira à última página. Entusiasmado por ter um jornal inteirinho em suas mãos, inventa anúcios, cria seções, usando cada uma um pseudônimo, pois quer que os leitores pensem que O Minarete conta com uma porção de colaboradores.
Em 1904, Lobato se forma e diz adeus para sempre à vida do Cenáculo e ao Mnarete. Está com vinte e dois anos, ja não mais estudante, é doutor. Com o novo título regressa a Taubaté, onde é recebido com grandes manifestações. Não se sente orgulhoso, no entanto. Sabe que as homenagens não são dirigidas a ele e sim ao avô"porque ele é um Visconde e eu não passo de neto de Visconde..."
PERDIDO EM AREIAS
Em pouco tempo Lobato aborrece-se com a ""que é obrigado a levar em Taubaté. Tenta fabricar geléia em vidro mas a coisa não da certo. Continua a escrever e a se aborrecer.
Em 1906, conhece Maria Pureza Natividade e por ela se apaixona. Como é moda na época, começa a escrever poemas para conquistá-la. Quer casar-se mas para isso será preciso conseguir um posto de promotor em alguma cidade importante, ter um salário e uma posição social. Consegue o lugar. Não num grande centro, mas em Areias, cidadezinha adormecida do vale do Paraíba. Até em crimes Areias é pobre; Lobato tem pouco que fazer como promotor. Cansado de esperar transferência para lugar melhor, resolve casar assim mesmo, em 1908.
Logo em seguida descobre que pode ganhar dinheiro colaborando para jornais. Envia artigos para "O Estado de S. Paulo',"A Tribuna', de Santos, e outros jornais. Refaz artigos, cria novos e através deles seu nome vai ficando conhecido. Ilustra com desenhos e caricaturas o que escreve.